Câncer de mama: “Ninguém te prepara para isso”

Quatro anos atrás, Claudia Romero não esperava que sua vida tomasse um rumo tão drástico, justamente no mês de outubro, mês em que, internacionalmente, se conscientiza sobre a luta contra o câncer de mama. Em meio à pandemia, durante um de seus exames de rotina, um pequeno nódulo foi detectado em sua mama direita, uma descoberta que representava uma ameaça ao que já havia marcado sua família: o câncer.
Sua mãe morreu de câncer ósseo há vários anos, após uma batalha silenciosa de sete anos, sem contar à família. Ela faleceu 15 dias após a família saber da notícia. Ela o fez em paz, pois desejava se reunir na eternidade com seu filho, irmão de Claudia, que havia falecido muitos anos antes.
Quando Claudia detectou o nódulo no seio, sua primeira reação foi de alarme e urgência, então ela foi imediatamente ao seu ginecologista de confiança, que lhe disse que não havia nada com que se preocupar. Ele a operou e removeu o nódulo, descartando a possibilidade de câncer.
Seis meses depois, seu útero foi removido devido a complicações de miomas, mas seis meses depois, em outubro de 2022 e um ano após o aparecimento do primeiro nódulo, ele reapareceu no mesmo lugar.
Cláudia então procurou uma segunda opinião, consultando outro especialista que, desde o exame inicial, confirmou que se tratava de um sinal de câncer de mama, doença que foi confirmada após a realização da bateria de exames necessária.
O ginecologista explicou que, para evitar complicações, ela teria que remover a mama. No entanto, Claudia sabia que havia a possibilidade de sua mama esquerda também desenvolver câncer nos anos seguintes, então tomou uma decisão imediatamente: "Eu disse ao meu ginecologista: 'Remova as duas mamas. Não quero ter problemas'. Eu já estava carregando um fardo muito pesado pelo que aconteceu com minha mãe e não queria que isso se repetisse. Eu realmente queria viver. A primeira coisa que me passou pela cabeça foram meus filhos; chorei muito, mas não parei por aí. Comecei a comprar livros, a ler muito para aprender sobre a doença e conseguir lidar com ela da melhor maneira possível", disse a mulher.
Em menos de dois meses, em dezembro, Claudia já havia passado pela cirurgia. Saiu sem nenhuma das mamas, mas com todas as chances de continuar viva e com os dois filhos. "Saí da cirurgia rindo; me senti ótima. Pensei que me dariam quimioterapia ou radioterapia, mas não. Felizmente, meu tratamento exigiu apenas terapia hormonal por cinco anos", disse ela, além de vários exames e diagnósticos aos quais precisa se submeter regularmente.
A recuperação não foi apenas física; envolveu também um ajuste emocional. Claudia teve que lidar com a dor, as cicatrizes e as mudanças em seu corpo enquanto continuava com sua vida, cuidava dos filhos e se adaptava a novas rotinas alimentares e de exercícios. "O mais importante para mim foi aceitar o que aconteceu comigo. Eu disse: 'Prefiro ser saudável'. E segui em frente", disse ela. Embora o processo médico tenha sido complicado, sua força e otimismo, bem como o apoio de sua filha mais velha e sua rede de apoio, que também incluía o apoio de sua ex-amiga, Vanessa Toussaint, que faleceu de câncer de mama em maio de 2024, a levaram a manter uma recuperação positiva.
"Ninguém te prepara para isso. Eu lia muito, mas também rezava, rezava para Deus, rezava para minha mãe. O que me manteve firme foram meus filhos. Eles nunca me abandonaram, estavam sempre lá. Minha irmã e meus primos também estavam lá", lembrou a mulher.
No entanto, um dos impactos mais fortes veio em sua vida profissional: embora Claudia tenha continuado trabalhando durante o processo de recuperação, mesmo conectada a um computador, apesar dos desgastes da cirurgia, meses depois ela foi demitida sem justificativa, um golpe inesperado que a levou à depressão.
"Quando me demitiram, fiquei deprimida. Dei a eles seis anos de trabalho com resultados positivos, mas parece que não estavam preparados para lidar com algo assim, porque eu nem faltei ao trabalho por motivo de doença. Para mim, manter a mente ativa e pensar em algo diferente da minha doença ajudou", lamentou a mulher.
Assim, não só houve um processo médico, trabalhista e legal que ela teve que enfrentar durante sua recuperação, mas, como parte de todas as mudanças trazidas pela detecção e tratamento de seu câncer, Claudia teve que se submeter a uma dieta rigorosa, eliminando açúcar, glúten e gorduras prejudiciais, priorizando vegetais, frutas e alimentos "anti-inflamatórios naturais" como gengibre e açafrão, tudo acompanhado por especialistas médicos.
Ela também aprendeu a fazer lanches saudáveis, como chips de jicama e beterraba, que ela não só prepara para ter em casa e acompanhar a dieta que seus filhos agora seguem, mas que também se tornaram uma fonte de renda para ela.
Em termos econômicos, o câncer representou um desafio considerável, mesmo tendo plano de saúde privado, pois reconheceu os altos custos de exames e medicamentos que teve que arcar desde então. Ela também reconheceu a desigualdade no acesso ao tratamento e a necessidade de apoio para aqueles sem recursos suficientes, o que nos últimos anos se tornou uma crise devido à falta de medicamentos, colocando em risco a vida daqueles que lutam contra o câncer.
Além do físico, para Claudia, apoio emocional, redes de apoio e aceitação do corpo são fundamentais. Por exemplo, durante algum tempo, ela trabalhou com um psicólogo para superar o impacto da perda e da transformação corporal, buscando maneiras de encarar a experiência com dignidade e autoestima. "Foi uma perda; é uma mutação que te infligem, mas você tem que aprender a conviver com isso", enfatizou.
No âmbito pessoal, a doença fortaleceu seus laços familiares e a maneira como ela interage com os filhos. Cláudia reconhece a importância de estar presente, apoiando e educando sobre hábitos saudáveis e prevenção, uma lição que ela espera transmitir às gerações futuras.
Para Claudia, a prevenção se tornou um dos pilares da sua vida, que ela compartilha com quem conhece sua história e durante as palestras que ministra. Em cada palestra, ela enfatiza a importância de exames médicos precoces e do monitoramento do histórico familiar, especialmente quando há histórico de câncer, como foi o seu caso. "Uma visita oportuna ao médico sempre pode salvar. Detectar precocemente não é o mesmo que deixar crescer", disse ela.
Hoje, Claudia não apenas venceu o câncer, mas todas essas experiências combinadas a levaram a se tornar uma apoiadora de outras mulheres e do público em geral: Claudia se envolveu em atividades de conscientização, compartilhando sua experiência por meio de palestras e conferências com aqueles que a convidam a compartilhar sua história como um testemunho de vida. Dessa forma, ela ajuda a aumentar a conscientização sobre a doença e a eliminar tabus em torno do câncer de mama, incluindo seu potencial impacto nos homens.
Apesar dos desafios, Claudia encontra satisfação em sua recuperação e na saúde de seus filhos. Seu depoimento reflete a importância da resiliência, da autoaceitação e da solidariedade com outros pacientes. "A maior satisfação é estar bem, ter saúde e ter meus filhos bem."
"Agora posso dizer que a palavra é muito demonizada devido à ignorância, mas o importante é falar sobre ela."
O câncer, afirma Claudia, não é apenas uma questão de sobrevivência física, mas também de transformação e aprendizado pessoal. Cada decisão, cada cuidado, cada mudança em seu estilo de vida faz parte de um processo de empoderamento que ela busca compartilhar com aqueles que enfrentam situações semelhantes. "É importante que todos entendam que isso pode acontecer com qualquer pessoa. Exames constantes e consultas médicas em dia são fatores-chave que podem mudar vidas", acrescentou.
Claudia Romero não pretende que sua história seja um conto de compaixão, mas sim um exemplo de ação e um chamado à conscientização e responsabilidade em relação à saúde e à detecção precoce de qualquer doença, especialmente o câncer de mama. Se ela não tivesse detectado seu tumor a tempo e buscado uma segunda opinião médica, sua história não seria a mesma hoje.
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